#2 | Norah Ephron, minha amiga imaginária
Tenho tanto a ver com a roteirista americana e nem sabia.
1999 foi um grande ano.
Não só porque eu finalmente entrei na quinta série e tive minha primeira festa discoteca (quem lembra?). O último ano da década de 90 seria marcado pelo lançamento de grandes clássicos das comédias românticas daquela geração: 10 coisas que eu odeio em você, Um Lugar Chamado Nothing Hill, Nunca Fui Beijada e Ela é Demais.
Esses quatro títulos específicos ajudaram a formar um traço importante da minha personalidade: amar comédias românticas. Começou na pré-adolescência, mas me acompanhou por toda a vida adulta, guiando os finais de semana na locadora de Seu Ivanildo e muitas idas ao cinema. Esses quatro filmes, por exemplo, provavelmente foram assistido muito mais de dez vezes (cada um) ao longo da minha vida. Sei falas decoradas e até hoje tenho uma quedinha no Freddy Prinze Jr (sabia que ele ainda é casado com a Sarah M. G.? Pois é!). Mas a minha comédia romântica favorita de todos os tempos não foi lançada em 1999, mas sim dez anos antes. Não tinha um jovem padrão que parecia bonito, mas era bem feio na real (desculpa, Freddy!). Não se passava em um colégio americano, mas sim em Nova York. Dirigido por Rob Reiner, "Harry and Sally: feitos um para o outro" é tão clássico que ganhou até uma tradução horrorosa. Na sinopse, Harry e Sally vão morar em NY e se encontram esporadicamente ao longo dos anos, construindo assim uma grande amizade até que, de repente não mais que de repente, percebem-se apaixonados.
Eu devo ter assistido esse filme pela primeira vez com uns 16 anos, minha mãe tinha um VHS de alguma promoção de jornal. Amei. O VHS se perdeu, eu passei anos sem encontrá-lo em locadora ou para vender (porque em algum momento, eu já tinha a minha própria locadora de comédias românticas em casa) e quando eu assisti novamente, percebi um nome familiar na ficha técnica: Norah Ephron. Eu só sabia que ela era uma jornalista americana, mas ao pesquisar, descobri que ela tinha outros filmes que eu amava no currículo: Mensagem para você, Sintonia do Amor (outro injustiçado com a tradução - Sleepless in Seattle é muito mais legal) e Julie & Julia. Mas era tudo que eu sabia até umas duas semanas atrás, quando assisti o documentário sobre a sua vida.
"Norah Ephron - Everything is copy", feito em 2015 pelo seu filho, Jacob Bernstein, conta toda a trajetória de Norah, desde a infância, quando muda com a família (seus pais eram roteiristas) para Los Angeles, passando pela adolescência e vida adulta, quando volta para Nova York. A vida de Norah foi marcada por textos inteligentíssimos, feminismo, uma vida social agitada, muitos amigos, mas, especialmente, pela sua capacidade de transformar experiências pessoais em trabalho. A frase "Everything is copy" foi repetida pela sua mãe ao longo dos anos e, apesar do que o tradutor da HBO Max sugere, não quer dizer "Tudo é cópia", mas sim "Tudo é texto", no sentido de tudo pode virar crônicas, artigos, roteiros, livros e, se ela ainda estivesse viva, newsletters ou texto no Instagram. Autoficção foi o combustível da carreira de Norah. O caso mais famoso? Heartburn, livro que trazia como tema central o seu segundo (e turbulento) divórcio. Logo virou best-seller e depois, filme com o Jack Nicholson e Meryl Streep (que eu estou louca para assistir e não encontro em nenhum streaming - saudades da locadora de Seu Ivanildo). "A difícil arte de amar" - outra tradução sofrida - marcou a entrada oficial de Norah no cinema e o resto é história. E uma muito boa. O jeito que Jacob Bernstein conduz o documentário também vale comentar. Entre depoimentos amorosos de amigos e parentes, temos grandes personalidades lendo textos importantes da carreira de Norah, o último, em especial, é muito, muito emocionante. Ela morreu em 2012 de um câncer que pouquíssimos sabiam que ela tinha. Que ironia. Uma escritora que usou tanto da sua vida para se conectar com as pessoas, não quis dividir uma das coisas mais marcantes que viveu.
Depois que terminei o documentário, entrei no meu modo obsessivo de sempre. Vi várias entrevistas no youtube, procurei seus textos na New Yorker e estou lendo um livro sobre como ela foi um divisor de águas quando o assunto é comédias românticas. Sei tanto da vida dela agora que me sinto um pouco amiga, afinal de contas, temos muitas coisas em comum: a paixão pela autoficção, a coisa de não se levar a sério demais (ou quase nada, risos), a maternidade colocada em um lugar de questões e reflexão, o apreço por cozinha e por organizar jantares (mais do que cozinhar, Norah amava oferecer jantares para os amigos e isso está no meu top 5 coisas favoritas da vida)...não sei exatamente o que foi, mas conhecer a história dela me tocou de forma especial. Coloquei Norah na minha prateleira de amigas imaginárias. E digo isso enquanto escuto Carly Simon, cantora que ela amava e agora já é uma das minhas favoritas também.
Desculpa, Norah, é que eu sou muito influenciável.
Aqui está o link para o documentário (disponível na HBO MAX)
Aqui o livro que estou lendo sobre seus três principais filmes
Aqui uma matéria bem legal sobre autoficção
Recomendo muito tudo isso aí e também os filmes que eu citei. Nada como ver um história de amor clichê que se passa em Nova York para melhorar aqueles dias mais ou menos.
Aproveitando que estou falando de HBO MAX e julgando que você ainda não assina o serviço (que pode não ter a melhor usabilidade, mas tem o melhor catálogo atualmente), vou deixar outras indicações de séries que você pode assistir por lá.
The Sopranos
A primeira grande série de TV. Um clássico, mas que até hoje, muita gente que diz amar séries nunca assistiu (eu mesma só fui ver em 2020). Você já deve ter ouvido falar, mas se nunca assistiu, fica aqui o meu apelo.The Sex Lives of College Girls
Série nova que tem a Mindy Kaling como showrunner. Meio adole, mas bem engraçadinha.Girls
A série de 2012 foi um acontecimento e a Hannah, personagem principal, estava certa ao dizer que era a voz da sua geração. Amo a Lena Dunham e o Judd Apatow, inclusive estou revendo tudo do zero.And Just Like That
A sequência de Sex and The City saiu em dezembro e eu faço parte do time dos que foram surpreendidos positivamente. Adorei os arcos, as novas personagens, o figurino <3 Toda quinta-feira era um dia bem feliz do meu puerpério.Euphoria
Merece uma newsletter inteira sobre ela, mas como estou ultra no hype, essa indicação não poderia ficar de fora. Potente e maravilhosa demais.
Eu e minha mãe tivemos vários debates nos últimos tempos sobre….pudim. Isso mesmo, pudim. A iguaria é minha sobremesa favorita da vida, mas foi só de uns anos para cá que me auto-consagrei como sommelier de pudim. Minha mãe é das antigas e achava que a receita de pudim não poderia ser mais simples e que sempre precisava levar leite condensado. Pois bem, repassei todos os meus ensinamentos e pedi o meu atual pudim favorito aqui em São Paulo: o da Bia. Super liso, não muito doce, ouso dizer que é perfeito. Seguem imagens:
Ela amou e concordou comigo: esse pudim é perfeito.
Se você ficou curioso, segue o instagram deles.
Tem um pudim para me indicar? É só deixar nos comentários.
E é desse jeito completamente aleatório que encerro a newsletter, que hoje venceu e não falou de maternidade. Não prometo que isso aconteça na próxima até porque estou criando coragem para falar de amamentação. Vamos ver….
Adorei esse texto, também me considero amiga imaginária da Norah! Me marcou muito uma fala dela, que é um mini conto praticamente: "Secret to life? Marry an italian." conselho que ela inclusive seguiu.
Amo todos esses filmes haha. E adorei a news, Nathi. Especialmente por neste momento estar mergulhando na escrita com estudos e cursos e tudo mais. Dando uma chance para este pulsar. (vou te mandar no insta uma sugestão dessas). Para mim o melhor pudim é da minha mãe, ela faz de forma completamente aleatória e sem padrão, como ela costuma ser na cozinha, sempre fica deli. haha Beijos!