#8 | Entretenimento de resgate emocional
Já montou a lista e filmes, livros, séries e músicas que fazem isso por você?
Semana passada, compartilhei no Instagram um vídeo que compilava os filmes da Nancy Meyers, e a Gabriela me mandou uma mensagem dizendo que os filmes da diretora/produtora/roteirista eram seus títulos de "resgate emocional".
Atenção: Resgate Emocional.
Separadas, essas palavras não têm nada a ver e nem é nem muito comum vê-las juntas na mesma construção. Mas aí alguém grudou as duas com cola quente, e elas viraram esse termo maravilhoso que, na hora que você bate o olho, já sabe exatamente o que ele quer dizer. É significante e significado na veia. A partir dele, eu meio que entendi o motivo pelo qual eu já vi tantas vezes alguns filmes e séries, porque leio os mesmos livros e revisito citações importantes para mim com uma certa frequência e, claro, é por isso que geralmente passo meses ouvindo a mesma lista de músicas. Tem certas coisas que são isso, o resgate que você precisa quando está refém de... sei lá, da vida?Pode ser uma fase complicada, um dia horroroso,uma ansiedade que simplesmente toma a sua sala de comando (sim, eu também estou presa em Divertidamente 2), não importa quem é o seu sequestrador. Até porque, são sempre tantos. Mas uma coisa é certa: ter o seu pack de resgate emocional pronto é uma ótima ferramenta de sobrevivência, independentemente de que fase da vida você esteja.
Falei de títulos de entretenimento, mas poderia escrever uma newsletter inteira sobre as minhas comidas de resgate emocional, como fui apresentada a elas e como tudo pode mudar na minha alimentação, mas alguns pratos e hábitos estão sempre lá, esperando para me abraçar e resgatar. Tenho certeza disso porque não importa o esforço que eu faça para me alimentar bem, é só pisar na casa da minha mãe que eu começo uma dieta intensa de fígado acebolado, purê e macarrão. Sim, carboidrato em dobro e gordura à vontade. Só um prato desse, feito por Valéria (no caso, minha mãe) e suas doses descomunais de azeite e manteiga, consegue me resgatar de sentimentos que só chegam para quem mora longe de casa há tanto tempo Mas como o assunto hoje não é comida, voltemos.
Desde que fui apresentada ao termo maravilhoso e tema desse texto, estou montando uma listinha de filmes, livros, séries e músicas (playlists) que conseguem me salvar dos sequestradores de mim mesma. Trouxe 5 itens dela, fora de ordem, para compartilhar aqui. Vamos lá:
Essa playlist
Se você acha que o Rob Gordon é o melhor fazedor de playlists, você claramente não conhece o meu marido. Há uns meses, eu pedi para ele fazer uma especial pra mim com o seguinte briefing: "Rapha, eu queria uma playlist para uma personagem. Ela é uma mulher de uns 35 anos, tem uma filha, o Tapestry é o disco favorito dela e ela sonha em ter uma cozinha bem grande com uma ilha no meio."Estávamos no carro, ele morreu de rir, falou que ia fazer e mudamos de assunto. Dois dias depois, ele me entregou essa preciosidade. São três horas e meia de músicas que falam muito comigo, porque óbvio que ele sacou que a personagem, na verdade, era eu mesma. Desde então, escuto diariamente esse compilado de músicas que me resgata de coisas aleatórias e também das importantes. Canto a plenos pulmões, às vezes danço, e acho impressionante como, mesmo no shuffle, ela tem uma ordem mágica que me entrega exatamente o que eu preciso naquele instante.
Gilmore Girls
Eu assisti Gilmore Girls pela primeira vez em 2003, totalmente fora de ordem porque, na época, nós sabíamos a programação da TV a cabo através de uma revista e, bem, essa revista nunca chegava na minha casa. Todos os dias, às 15h, passava um episódio antigo e toda quinta-feira, às 19h, um da temporada atual. Passei meses até conseguir ver tudo da antiga, enquanto via tudo da atual, uma verdadeira bagunça. Mas fui imediatamente capturada por aquele universo. Já tive todos os DVDs (antes de existirem os streamings, claro), sei falas decoradas e, óbvio, já vi tudo, do começo ao fim, bem mais vezes do que me orgulho em admitir. Podia ser só uma série que eu amo e vejo por nostalgia, um guilty pleasure, como dizem por aí. Mas eu só entendi que essa série me resgata emocionalmente quando, com 18 dias da minha filha no mundo e passando por um puerpério discreto, porém desolador, eu senti que precisava de algo para me lembrar de mim mesma. O que eu fiz? Assisti Gilmore Girls mais uma vez.
Qualquer um desses três filmes da Nancy Meyers
Alguém tem que ceder
O amor não tira férias
Simplesmente complicado
Eu os amo por motivos diversos: Diane Keaton, Meryl Streep, trilhas de Hans Zimmer, casas muito bem decoradas (e sempre com uma ilha na cozinha, rs), pouquíssimos plot twists, você sabe exatamente o que esperar, porém, não são feitos de qualquer jeito. Diálogos engraçados, personagens cativantes, relacionamentos entre pessoas mais velhas, um alento frente a qualquer sequestro da vida. Todos têm nota 6 e pouco no IMDB? Sim. Eu discordo? Não. Mas são nota 10 em momentos específicos.Cem anos de solidão
Quer coisa melhor para te resgatar do que seja lá o que você precisa do que a melhor peça de realismo fantástico que já existiu? Li pela primeira vez com 18 anos e acho que foi também a primeira vez que chorei com um livro. Na cena das borboletas do banheiro, em um ônibus chamado Casa Caiada, que eu pegava para ir até a faculdade. Esse livro, inclusive, não só me resgata emocionalmente, mas me teletransporta para a biblioteca da minha faculdade, onde eu passava horas caçando livros e lendo sentada no chão, encostada nas paredes de vidro.Sempre releio de tempos em tempos. Tenho uma edição com uma capa linda, que comprei em um sebo perto da faculdade, mas está tão velha que, infelizmente, não é mais possível manuseá-la sem ter uma crise alérgica. Preciso comprar outro.
Ella & Louis (1969)
Lembro exatamente do dia que ouvi "They Can’t Take That Away From Me" pela primeira vez, em um iPod shuffle, dentro de um ônibus muito longe da minha casa (sim, eu pegava muitos ônibus e estava sempre ouvindo música ou lendo um livro ou ainda, as duas coisas ao mesmo tempo). A combinação das vozes desses dois é dessas coisas que a gente sente na pele. Comecei a pesquisar de que disco era, achei esse de 1969 que eles gravaram juntos. Virou um dos meus discos favoritos, um escape sempre que eu preciso fechar os olhos e ouvir uma coisa bonita. Tenho em vinil em casa e é um dos poucos discos que eu proativamente coloco para ouvir quando estou sozinha. Uma joia, uma dupla de resgate da melhor qualidade.
De onde veio isso, obviamente, tem muito mais. Mas deixo aqui meu muito obrigada à Gabriela por ter me apresentado esse conceito maravilhoso (que me ajudou a ter ideia para essa edição porque eu confesso que estava bloqueada criativamente). E você, o que te resgata emocionalmente? Pode deixar aqui nos comentários que eu vou adorar saber.
que presente esta lista <3
agora tem um post-it no meu monitor: "fazer lista de resgate emocional". obrigada!